Eucaristia e sacerdócio, pedras de tropeço
Eucaristia e sacerdócio, pedras de tropeço
Por que a Eucaristia escandaliza ainda hoje?
"A minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele."
No Evangelho deste 21º Domingo do Tempo Comum, voltamos ao famoso discurso de Nosso Senhor sobre a realidade do Pão da Vida (Jo 6, 60-69). Agora, Jesus começa a falar de modo mais direto sobre a Eucaristia, dizendo, explicitamente, que Ele é o Pão Vivo descido do Céu.
Os discípulos e as outras pessoas que ouviam Jesus começaram a ficar intrigados. O quê, afinal, Jesus queria dizer? Se antes Nosso Senhor falava de forma genérica, sobre o Pão Vivo; agora, fala de forma específica: a Eucaristia. Ele diz:
"A minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele."
— São João 6, 55-56
Portanto, Nosso Senhor está dizendo que aquele que come desse Pão viverá eternamente.
É nesse contexto que as pessoas começam a se escandalizar com as palavras de Jesus sobre a Eucaristia. Aqueles discípulos que ouviram Cristo dizer "minha carne é verdadeira comida, meu sangue é verdadeira bebida" ficaram perplexos:
"Essa palavra é dura, como alguém consegue escutá-la?"
— São João 6, 60
E foi assim que muitas pessoas começaram a se afastar de Nosso Senhor.
É preciso observar que, cronologicamente, aqui nós estamos a um ano da Paixão de Cristo. Neste contexto, Jesus fala da Eucaristia, e seus discípulos já começam a abandoná-lo. Assim, ao ver que todos o estavam deixando, Ele pergunta aos Apóstolos: "Vós também quereis ir embora?" E é neste momento que São Pedro intervém, dizendo:
"A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna."
— São João 6, 68
São Pedro está professando a fé diante de Nosso Senhor; no entanto, nem todos os Apóstolos ali presentes são verdadeiros. Mais à frente, Jesus diz: "Eu os escolhi, mas um dentre vós é um diabo." Ele estava claramente falando de Judas, que o trairia. Ou seja: um ano antes da sua traição, Judas já havia perdido a fé. Mas ele perdeu a fé em quê? Na Eucaristia.
Estamos diante de um drama que pode ser perfeitamente aplicado à Igreja atual. Hoje, nós vemos muitas pessoas dispostas a seguir Jesus, porém há uma pedra de tropeço diante delas: a Eucaristia.
Mas por quê? Ora, porque não há como se pôr na presença real de Jesus na Eucaristia, sem que se admita que na Igreja Católica há um sacerdócio ordenado; isto é, que padres e bispos têm o poder de consagrar a Eucaristia.
O drama atual está no fato de que as pessoas deixam de ter fé no sacerdócio e, por consequência, deixam de crer no Santíssimo Sacramento. E isso pode acontecer porque algumas pessoas estão contaminadas por uma mentalidade igualitária, avessa à hierarquia; ou porque viram escândalos de sacerdotes e, quase sem notar, foram perdendo a fé no sacerdócio. E isso ocorre não só com os leigos; mas, às vezes, com os próprios padres e bispos.
Quando de uma viagem ao Gabão, na África, durante uma ordenação sacerdotal, o Papa João Paulo II disse: "A primeira missão de um padre é crer no seu próprio ministério." Eis o grande drama da Igreja Católica hoje: dentro ou fora dela, as pessoas, por diversas razões, estão deixando de crer no sacerdócio e, por consequência, também na Eucaristia.
Desde Martinho Lutero, em 1517, os protestantes vêm criando inúmeras seitas e facções pelo mundo: dentre essas milhares de denominações, não há uma única que creia na Eucaristia. Afinal, o protestantismo nada mais é que um cristianismo sem sacerdócio.
Os protestantes podem até ter algo que chamam de "ceia", ou uma liturgia vagamente análoga à católica; mas nenhum deles crê na Eucaristia, porque consideram que todos os batizados são "sacerdotes". Mas não é do sacerdócio batismal que estamos falando aqui, mas de um sacerdócio ordenado, instituído com o poder especial de consagrar as sagradas espécies, transformando-as no Corpo e Sangue de Cristo.
Historicamente, esse é o início da disputa de Lutero. Quando este monge agostiniano começou a perceber os desmandos, fraquezas e pecados do clero — inclusive, seus próprios —, começou a se escandalizar. Esse foi o estopim para que começasse a inventar um cristianismo sem sacerdócio. De fato, este tipo de religião era bastante cômoda e oportuna para os príncipes alemães, isto é, para as autoridades civis da época, que passaram a se ver livres das influências da Igreja de Roma.
O protestantismo não teria obtido sucesso se Lutero não tivesse recebido o apoio político dos príncipes. O ex-monge não queria fundar uma nova igreja, senão suprimir integralmente o poder do clero, dos bispos e do Papa, entregando-o nas mãos das autoridades civis.
Com isso, fica evidente que a primeira coisa a ser feita por alguém que pretende desacreditar a hierarquia da Igreja Católica é afirmar que ela não detém poder espiritual algum — poder sem o qual não há padres capazes de fazer a verdadeira consagração do pão e do vinho.
Quando passam a dizer que, na verdade, qualquer batizado pode celebrar a Eucaristia, então o Santíssimo Sacramento torna-se um mero símbolo, uma recordação vazia.
No entanto, Nosso Senhor Jesus Cristo é bem descritivo no seu discurso do Pão da Vida — é, aliás, o que lemos no Evangelho de São João nos versículos que precedem o Evangelho deste domingo: "Minha carne é verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida" (Jo 6, 55).
Jesus não diz: "Minha Carne simboliza…", tampouco "meu Corpo simboliza…". Ele está dizendo que precisamos comer de sua carne e beber do seu sangue, e logo em seguida diz que Ele é o Pão Vivo descido do Céu, a Eucaristia.
A mesma crise de fé que Lutero manifestou há quinhentos anos, infelizmente mantém-se ainda hoje. Basta observar, por exemplo, o que têm em comum teólogos como Hans Küng, Leonardo Boff e outros teólogos modernos: todos estão lenta e gradualmente retirando o poder da hierarquia da Igreja e depositando-o nas mãos de instituições como a ONU, os "príncipes" do mundo moderno. Estão entregando a Igreja às organizações internacionais, às fundações bilionárias, ou a partidos locais que, depois, pretendem fazer um grande projeto internacional.
Seja como for, , quando algum fiel católico ouve um padre pregando contra o poder da hierarquia da Igreja, do Papa, ou do Magistério da Igreja, em prol, por exemplo, da ONU, esse fiel católico pode dizer: "Não, eu não farei isso! Continuarei obedecendo ao Magistério de sempre, seguindo aquilo que a Igreja sempre ensinou".
Quem fizer isso, certamente será acusado de falta de obediência. Ora, mas a quem devemos ser obedientes?
Para percebermos como agem esses senhores, basta observarmos o modus operandi de Lutero: um príncipe fechava acordo com ele para que o seu território fosse protestante; e, então, eles entravam naquela vila, tomavam a paróquia, aprisionavam o padre (frequentemente usando de violência) e substituíam-no por um pastor vestido de batina. As Missas continuavam, e eles diziam que estavam apenas reformando a Igreja, iniciando uma nova forma de "ser Igreja".
Dessa forma, o povo era ludibriado a aderir à transformação protestante; mas isso sem que eles tivessem optado por entrar em outra "Igreja" — pois eram levados a acreditar que tudo era a mesma Igreja. Hoje, porém, os métodos tornaram-se ligeiramente mais sutis: não é mais necessário, por exemplo, o aprisionamento de padres; basta que o movimento contrário à Igreja coloque no coração do próprio padre que ele é igual a todo mundo.
Uma vez que essa mentira esteja no coração do padre, ele passa a olhar para si mesmo somente como alguém cheio de fraquezas, igual a todas as outras pessoas. Assim, ele passa a acreditar que não possui nada de especial — é só o coordenador da comunidade, o animador da paróquia. É assim que o padre deixa de crer que tem o poder de consagrar a Eucaristia; curiosamente, não por falta de fé, mas por uma suposta humildade.
Então, quando o sacerdote deixa de crer no seu ministério, consequentemente, a comunidade também deixa de crer. Desse modo, o Santíssimo Sacramento é reduzido à mera "celebração da partilha".
Portanto, , Jesus nos pergunta hoje:
"Vós também vos quereis ir embora?"
— São João 6, 67
São duras de ouvir as palavras de Nosso Senhor de que há uma presença real na Eucaristia e de que, portanto, precisamos crer no sacerdócio verdadeiro de homens ordenados. É claro que para nós é bastante cômodo imitarmos Lutero e, ao vermos que os padres têm fraquezas, dizer que eles são iguais a todo mundo.
A solução do Concílio de Trento foi bem mais trabalhosa: quando os padres conciliares observaram a decadência do clero, eles mostraram que tinham fé no sacerdócio católico e, por isso fundaram seminários, organizando a formação sacerdotal a fim de que os novos padres realmente se convertessem e buscassem a santidade — um trabalho muito exigente, que perdurou por séculos.
No entanto, agora, com os nossos seminários muitas vezes mal cuidados, com uma imensa dificuldade na seleção de candidatos e na formação verdadeira desses aspirantes ao sacerdócio, é evidente que começam a surgir cada vez mais escândalos na classe sacerdotal.
Diante disso, podemos fazer a escolha protestante, dizendo que o sacerdócio ordenado não existe, porque o padre é um homem como os outros, e assim estaremos jogando fora a fé na Eucaristia; de modo que o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida passa a não ter mais sentido. Ou, então, podemos trilhar o caminho árduo e difícil, que é o caminho de que o padre precisa reformar os seus próprios costumes, emendar a sua vida, buscar verdadeiramente a santidade e crer no mistério do seu sacerdócio.
Nós precisamos crer no mistério da Santíssima Eucaristia!
Por isso, , rezemos generosamente para que a nossa fé no Santíssimo Sacramento mantenha-se viva. Só assim a Eucaristia será verdadeiramente o centro da vida da Igreja: "Ecclesia de Eucharistia", a Igreja nasce da Eucaristia.
Mas para isso é preciso entender que Jesus, hoje, também olha para os seus Apóstolos — como olhou há dois mil anos — e diz aos seus padres: "Vós também vos quereis ir embora?" Portanto, é preciso rezar muito pelos nossos sacerdotes.
Deus abençoe a sua semana!
Equipe Christo Nihil Præponere
padrepauloricardo.org