“Cada vez que nós comungamos, mais nos assemelhamos a Jesus, mais nos transformamos em Jesus.”
"Como o pão e o vinho são convertidos no Corpo e Sangue do Senhor, assim aqueles que os recebem com fé, são transformados em Eucaristia viva."
Neste 19.º Domingo do Tempo Comum, damos sequência ao capítulo 6 do Evangelho de São João (v. 41-51). Esse capítulo, começa com o milagre da multiplicação dos pães e, depois, Nosso Senhor atravessa o mar e faz o discurso do Pão da Vida, que é dividido em duas partes: Jesus é o Pão descido do Céu, com o qual devemos nos alimentar; e Ele é também o próprio sacramento da Eucaristia.
Desse modo, somos hoje convidados a entender ambas as partes desse importante discurso. Muitos que nos acompanham certamente já receberam a Comunhão. Se o fiel receber a Eucaristia adequadamente será verdadeiramente alimentado, pois estará recebendo uma vida de Deus, por meio de uma conexão direta.
A Comunhão é análoga à seguinte situação hipotética: você está em um leito de hospital, desidratado e, durante alguns minutos, o médico introduz diretamente em sua veia um soro, por meio do qual você passa a ser hidratado. Este soro também está enriquecido com alguns nutrientes, sais minerais e algum medicamento. Você está recebendo, portanto, tudo o que precisa para se manter hidratado e, assim, recobrar a saúde. No entanto, essa não é a forma corriqueira de se beber água; isso só acontece quando há um quadro de desidratação intensa.
Essa analogia nos ajuda a entender que, quando recebemos a Sagrada Comunhão, nós estamos como que recebendo um tratamento mais intenso para a saúde da nossa vida espiritual. Durante aqueles quinze minutos nos quais a Hóstia está em nosso estômago, nós estamos em contato físico com Jesus, e assim podemos ter uma comunhão intensa com Ele, sendo profundamente alimentados.
Cristo nos dá o alimento da Eucaristia — da Comunhão, que pode até ser diária —, mas para quê? Ora, para que depois, em nosso cotidiano, nós aprendamos a nos alimentar normalmente por meio da nossa vida de oração. Desse modo, se comungarmos de modo adequado, nós teremos Jesus, o próprio Deus que é o Pão da Vida, a nos alimentar; e isso para que no cotidiano Ele possa continuar a nos sustentar.
Mas, afinal, como podemos comungar adequadamente? Como Cristo será para nós verdadeiro alimento, conforme Ele mesmo diz: "Minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida" (Jo 6, 55)?
Há alguns princípios fundamentais que temos de observar. Em primeiro lugar, precisamos estar em estado de graça para comungar bem. Isso significa que devemos ter sido perdoados de todos os pecados graves que, porventura, tenhamos cometido. Naturalmente, conseguimos isso por meio de uma boa Confissão. Mas, nessa Confissão, é necessário assumir o firme propósito de deixar, de uma vez e para sempre, todos os pecados mortais.
Os pecados não podem ser abandonados só por um período. Por exemplo, houve um rapaz que escolheu como propósito da Quaresma abster-se da masturbação. Ora, isso não pode ser propósito quaresmal, simplesmente porque é uma obrigação para o resto da vida.
, é preciso abandonar os pecados mortais para sempre. Esse deve ser o propósito sincero na sua Confissão. E ainda que você caia novamente, esse propósito deve ser cada vez mais firme.
Assim, o primeiro critério para se comungar bem é o estado de graça; mas há ainda quem diga: "Isso é muito exigente. As pessoas deveriam ter o direito de comungar mesmo em pecado, pois a Comunhão também é remédio".
Ora, qualquer médico sabe que há determinados remédios que, a depender da condição do paciente, podem fazer mais mal do que bem. Isso é fato. Em nossa analogia com o leito de hospital, alguém pode dizer: "Um sujeito que está na UTI tem direitos iguais a todos nós. Assim, ele pode comer feijoada, se ele quiser". Isso é verdade, no entanto não é aconselhável, visto que, na UTI, a feijoada pode fazer mal ao paciente, pois é um alimento muito forte e pesado para ser digerido — a pessoa vai se alimentar, mas esse alimento pode matá-la.
Desse modo, nós temos de estar com o nosso organismo espiritual íntegro, para recebermos esse alimento forte e substancial, que é a Eucaristia. Senão, isso pode nos destruir. O próprio Apóstolo Paulo nos diz:
Quem come e bebe indignamente o Corpo e o Sangue do Senhor, come e bebe a própria condenação.
— 1 Coríntios 11, 29
Portanto, se recebermos a Comunhão em estado de pecado mortal, seremos enormemente prejudicados. Nós vemos que santo algum — no transcurso destes dois mil anos de história da Igreja — aconselhou as pessoas a comungarem em estado de pecado mortal. De fato, isso nunca se ouviu falar. Então, nós temos de seguir pelo caminho seguro, sem inventar modas ou novas regras.
E, como segunda condição, precisamos preparar em nossa alma uma fome e uma sede de Jesus. Nós somos convidados a nos livrar de certos automatismos, de determinadas rotinas, analisando, por exemplo, o nosso comportamento ao ir comungar. Muitas vezes, entramos na fila da Comunhão da mesma forma que escovamos os dentes pela manhã: sem pensar no que estamos fazendo.
A Eucaristia é um alimento espiritual, não corporal; há, de fato, a presença física de Cristo, mas Nosso Senhor quer nos alimentar espiritualmente. Com isso, para que aconteça a refeição espiritual, devemos ter uma fome e uma sede espiritual — o que não significa ter sentimentos e emoções, pois não é preciso entrar na fila da Comunhão chorando.
Para ter essa fome e sede espiritual, é necessário fazer um profundo ato de humildade, reconhecendo que Jesus quer se unir a nós mais do que nós queremos nos unir a Ele. Quanto mais humilde for esse ato, mais frutífera será a Comunhão. Assim sendo, se estamos em estado de graça, humilhemo-nos diante de Nosso Senhor:
"Jesus, eu não mereço comungar, o que eu mereço é o Inferno, mas eu preciso de vós e sem a vossa graça, eu nada sou; eu não sou capaz de vos amar, de me amar e de amar alguém. Por isso, preciso do vosso auxílio e da vossa bondade."
Há aqui a necessidade da preparação para a Comunhão. Por meio da oração, nós precisamos alargar a nossa alma, como diz Santo Agostinho, para que a Eucaristia seja eficaz. E isso significa que nós não vamos apenas receber Jesus no Sacramento, mas o receberemos como alimento espiritual de fato.
Além disso, como terceiro ponto, ao entrarmos na fila da Comunhão, temos de receber o Corpo de Cristo com uma profunda atitude de fé — que também é fundamental.
Há duas formas de receber a Comunhão: a primeira é a forma tradicional, na qual o fiel recebe a Hóstia na boca — é mais adequado dizer que ele recebe na língua, pois precisa abrir a boca e estender ligeiramente a língua para que, nela, o sacerdote deposite o Santíssimo Sacramento —; e a segunda forma é receber a Comunhão na mão. Essa forma foi introduzida recentemente, e requer uma atenção ainda maior, pois o fiel deve observar se as suas mãos estão limpas e se, nelas, não ficou algum fragmento da Hóstia.
Vemos, portanto, que receber a Comunhão na mão exige uma atenção maior. De todo modo, seja a Comunhão na boca ou na mão, o importante é que o fiel manifeste a sua adoração a Jesus. E essa adoração a Nosso Senhor pode ser manifestada de três formas: na fila, fazendo uma genuflexão, ou uma reverência enquanto a pessoa da frente comunga; ou então pondo-se de joelhos para comungar.
Além disso, é importante ter cuidado com a atitude das mãos no momento de comungar; porque, se o fiel vai receber a Comunhão diretamente na boca, ele deve ter as mãos unidas em prece, mas cuidando para não deixá-las muito próximas ao queixo, a fim de não atrapalhar o sacerdote no momento de dar a Comunhão.
Esta é a forma mais prática de receber a Comunhão: na boca. Assim, depois de comungar, o fiel retorna ao seu lugar para o momento mais importante: agora ele tem de amar Jesus. A primeira atitude — àqueles que não têm problemas de saúde — é se pôr de joelhos em estado de adoração; mas essa atitude de amor deve permanecer durante os minutos em que o fiel ainda está com aquela aparência de pão em seu estômago.
Geralmente, as pessoas não prestam atenção nisso; elas acham que, após a Comunhão, basta fazer uma brevíssima oração de alguns segundos. Mas não pode ser só isso, porque, se cremos verdadeiramente que Jesus está ali presente, então devemos compreender que, enquanto estiver lá a aparência de pão, a pessoa mais importante da nossa vida — não somente Jesus, mas a Santíssima Trindade — está ali, à nossa disposição. Deus está nos amando e querendo que nós o amemos de volta.
Desse modo, , temos de comungar como pessoas que, verdadeiramente, têm fé. Assim, depois de receber a Comunhão faça, no mínimo, dez minutos de adoração. Dez minutos durante os quais você amará Jesus e falará com Ele. Claro, se for possível ficar mais do que dez minutos, será ainda melhor!
Com isso, você poderá colher os frutos desse alimento espiritual e notará a diferença em sua vida. E isso porque, quando nós recebemos um alimento, a força desse alimento só é percebida depois. Por exemplo: quando não tomamos café da manhã, sentimo-nos fracos e debilitados mais tarde. De modo semelhante, notamos a presença da Comunhão bem feita durante a vida, pois começamos a perceber o crescimento nas virtudes, ainda que de modo gradual. Mas no momento que recebemos a Comunhão, não sentimos um choque elétrico; a bem da verdade, não sentimos coisa alguma — não é uma questão sensível, é uma questão de fé.
Nós cremos e sabemos que é Ele quem está nos tocando; é o Senhor quem nos toca. E, desse modo, é muito mais importante o que Ele está fazendo em nós — no momento da Comunhão —, do que o que nós estamos fazendo com Ele, por assim dizer. No entanto, para que Ele faça algo, precisamos nos dispor adequadamente. Ele é o Pão do Céu recebido na Eucaristia, para poder ser o Pão da Vida no nosso cotidiano.
Deus abençoe a sua semana!
Equipe Christo Nihil Præponere
padrepauloricardo.org